quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Feliz - 2

Os quartos de hóspedes da casa de Carlos e Paulo são frequentemente ocupados por Cláudia, a irmã de Paulo, e o seu filho de 5 anos, o Carlitos.
O quarto onde Carlitos dorme está cheio de briquedos que os tios lhe compram. Carlitos é uma boa desculpa para comprar legos (que Carlos adora) e peluches (a que Paulo não consegue resistir).
Cláudia tem 30 anos e ficou viúva quando Carlitos tinha apenas 2. Acidente de automóvel. Carlos e Paulo foram então promovidos a tios a tempo inteiro, apesar de Cláudia morar nas Caldas da Rainha. As visitas aos tios são frequentes e vice-versa.
Paulo está sempre a tentar convencer a irmã a mudar-se para Lisboa. Cláudia responde que quer que o filho cresça numa cidade pequena. No entanto queixa-se de que nas Caldas toda a gente vive no século 19. Visitas ao infantário e conversas com outras mães e educadoras de infância deixam-na sempre com os nervos em pé e com assunto para 2 meses de críticas ao sistema de ensino e métodos pedagógicos em Portugal.
Carlitos beneficia apesar de tudo da febre educativa e didática da mãe e dos tios. Com apenas 5 anos já foi à ópera, 10 vezes ao teatro, incontáveis vezes ao cinema e viu «O Rei Leão» no vídeo 22 vezes (Carlos contou). Paulo resolveu arranjar um cartão de crédito do Jardim Zoológico porque chegou à conclusão que ia poupar dinheiro.
A palavra preferida de Carlitos no momento é ”Ornitorrinco”. O animal preferido é o koala, mas também gosta dos pinguins, das focas e das lontras. Adora índios e cowboys.
Carlos e Carlitos foram feitos um para o outro. Enquanto Paulo se cansa facilmente das brincadeiras e Cláudia não aguenta mais o esforço de viver como mãe solteira de um filho hiperactivo, Carlos e Carlitos brincam de igual para igual.
A brincadeira favorita de Carlitos é com um action-man que se transformou num indío chamado Guilherme Teles que tem como melhor amigo um koala de peluche chamado Pantufa e juntos vivem muitas aventuras no país dos hermafroditas.
Cláudia teve problemas com as educadoras do infantário quando o fillho ensinou os colegas a dizer ”hermafrodita”. O problema solucionou-se quando se resolveu deixar 23 criancinhas crescer na ilusão de que hermafrodita significa canibal. Claudia desculpou-se com a costumeira frase ”não sei onde é que ele ouve estas coisas”. A verdade é que sabe perfeitamente onde é que ele as ouve, mas não se rala minimamente.
Carlitos por seu lado, apesar de brincar mais com Carlos do que com Paulo, resolveu que gosta igual dos 2 porque Paulo tem um amigo que conhece 1 hermafrodita de verdade.
Carlitos espera que um dia os tios o levem a viajar à ilha do polo sul onde vivem os ornitorrincos, os koalas e os hermafroditas. Só não lhe agrada pensar que antes vai ter de passar 1 mês a comer alho porque isso é a única coisa que vai impedir os hermafroditas de o cozerem num caldeirão. Os hermafroditas (que por esta altura já são canibais-vampiros) não gostam de alho, tal como Carlitos também não gosta de azeitonas, couves, espargos, hamburgers e coca-cola. O seu prato preferido é Pato à Pequim no restaurante do senhor Li, que fica na esquina da rua onde Carlos e Paulo moram. Paulo, que detestava comida chinesa, foi obrigado a converter-se. ”…mas antes isto que hamburguers”, diz. Além disso, o restaurante do senhor Li é dos poucos em Lisboa onde os empregados sorriem o tempo inteiro, e isso agrada-lhe, mesmo que seja só um hábito chinês.
Carlitos decidiu não gostar de hamburguers e coca-cola porque são a comida favorita dos hermafroditas. Foi o tio Paulo quem lhe contou e o tio Paulo é sem dúvida a autoridade mundial na antropologia cultural dos hermafroditas.

Sem comentários: